Não é muito difícil fazer com que o design fique tão bem na impressão como no ecrã usando alguns métodos simples.
Arte final, AF, press-ready file, PDF em alta… estes são alguns dos termos que causam suores frios a alguns designers, paginadores e accounts. Mas será que a arte final é este “bicho-papão” que toda gente foge a sete pés? Acho que não. É claro que há AF’s mais complexas que outras, por exemplo quando se trata de uma embalagem, mas isso fica para outra altura… Sem complicar, a arte final é um ficheiro com todas as características técnicas necessárias à reprodução, com a qualidade expectável, de um material gráfico. Basicamente, é a preparação de um ficheiro digital para a passagem ao mundo físico como produto impresso.
Na Finepaper, produzimos dezenas de produtos por dia e verificamos todos os ficheiros de todos os projectos. Conseguimos evitar muitos problemas mas também aprendemos novas situações e possíveis soluções todos os dias. Na verdade, a única regra que funciona sempre é desconfiar de tudo. Os problemas mais graves podem vir de onde menos esperamos.
“…na produção de um produto gráfico existem geralmente processos físicos, químicos e mecânicos que são bem mais complexos do que projectar uma imagem num ecrã.”
E porque temos de preparar um ficheiro se está óptimo no ecrã? É aqui que está a verdadeira essência da arte final. E a resposta é simples… na produção de um produto gráfico existem geralmente processos físicos, químicos e mecânicos que são bem mais complexos do que projectar uma imagem num ecrã. Chapas de impressão, tintas, impressão, máquinas de impressão e de acabamentos.
Já ouviram falar de bleeds, CMYK’s, miras de corte, imagens em baixa e spot colors, certo? Grande parte das artes finais que chegam às gráficas não vêm com estas “coisas” ou vêm com coisas a mais :S. Não existem características obrigatórias ou standard para fazer uma arte final, já que estas dependem de muitos factores da impressão ou da gráfica que vai produzir o trabalho, mas o que é certo é que na grande maioria dos casos há algumas questões técnicas que não podem falhar.
Mas antes de começarmos, é importante saberem ou confirmarem algumas características definidas para o trabalho de forma a que a preparação dos ficheiros possa ser ajustada. Formato do trabalho, número de cores a serem impressas (por exemplo 4/4, que significa 4 cores na frente e 4 cores no verso), se o trabalho tem dobras e outras características que possam ser importantes como o tipo de impressão a ser utilizado, por exemplo. Se virem que falta informação ou têm dúvidas nalguma característica, é melhor perguntar antes de enviar o ficheiro. Alterações com o processo em andamento são sempre de tentar evitar porque custam sempre tempo e muitas vezes até dinheiro.
Quando comecei a fazer AF’s a primeira coisa que aprendi a fazer foi uma checklist em papel com as seguintes características básicas:
Formato
Cores
Resolução
CMYK’s
Bleeds
Dobras/cortantes
PDF’s em alta
Como disse anteriormente, existem AF’s mais complexas e esta lista poderá ter mais outras coisas importantes de verificar como trapping, compensação de dobras, cortantes, overprint e mais algumas coisinhas, mas creio que estas são as definições importantes para qualquer AF.
Então… a primeira coisa a fazer é confirmar o formato do trabalho no ficheiro. Este passo é o primeiro porque se não estiver no formato certo isso implica provavelmente algumas adaptações e alterações do design que podem até precisar de nova aprovação do cliente, novos conteúdos, etc. Ou seja, se o formato estiver errado, o processo pode ter de voltar a trás um bocado… Sabem como confirmar isto, certo?
“Se virem que falta informação ou têm dúvidas nalguma característica, é melhor perguntar antes de enviar o ficheiro.”
O próximo passo é ver se as cores utilizadas no documento estão de acordo com a forma como a impressão vai ser feita. Mas primeiro, acho que é importante saberem que quando se fala em 4/4 cores, refere-se geralmente a 4 cores de seleção frente e verso. Também se chama quadricromia ou CMYK que é um diminutivo para Cyan, Magenta, Yellow, Black. Só uma nota: o “K” não vem de “black” mas sim de Key colour porque por várias razões esta é efectivamente a cor chave que faz este processo de reprodução funcionar. Bom, com este sistema podemos imprimir “todas” as cores misturando apenas estas quatro tintas imprimindo uma cor de cada vez em cima umas das outras e é por isso que quase todos os trabalhos que não são só a preto e branco são impressos com estas cores primárias. Mas há algumas situações onde temos de fazer as cores fora da máquina, e imprimí-la diretamente (sem separar em cores de selecção) e a isto chamamos de cores directas.
Ok, de volta à verificação do ficheiro. Na janela Swatches (no Adobeⓒ Illustratorⓒ ou InDesignⓒ) podemos confirmar a lista das cores existentes num documento e qual o seu estado, mas às vezes é preciso atualizar primeiro a lista:
- Abrir o menu da paleta dos Swatches no canto superior direito (menu dos traços)
- Seleccionar as cores não utilizadas em “Select All Unused”
- Apagar as cores desnecessárias clicando no caixote de lixo (canto inferior direito na janela).
- Voltar ao menu do canto superior direito e adicionar as cores utilizadas que faltam na lista em “Add Unnamed Colours”.
E pronto, a lista de cores está actualizada e pronta para a verificação.

Fig.01
Como podem ver neste exemplo da imagem temos dois vermelhos e, apesar de parecerem iguais, dá logo para perceber que são diferentes por causa dos símbolos à frente do nome da cor. O último símbolo, com cores, diz-nos a composição da cor, ou melhor, o espaço de cor. Neste caso está CMYK em ambos os vermelhos. O quadrado cinzento sem a bola, indica que a cor está em selecção e o quadrado com a bola quer dizer que é uma cor direta, ou spot. Se não for suposto o trabalho ter cores directas, temos de converter para seleção. Dois clicks na cor, onde diz “colour type” e no drop down escolhemos “process”.
Fazemos isto para todas as cores identificadas. Mais uma etapa concluída.
Vamos passar à resolução. Como podem ver na fig.02 (Ai), ao selecionarem uma imagem, aparecerá no canto superior esquerdo a informação relativa à mesma: nome do ficheiro (imagem01.jpg), espaço de cor (RGB) e resolução (PPI: 288).
Na fig.03 na janela dos links temos a informação da imagem, nome, localização, espaço de cor, resolução, etc. Na parte da resolução (“actual PPI” e “effective PPI“) o que interessa é o valor do “efective PPI“. Neste caso 277 PPI (Pixels Per Inch) o que é equivalente a DPI (Dots Per Inch). Bom, para ser rigoroso… não é. Mas não vamos entrar nisso agora porque quero acabar este post hoje.

Fig.02

Fig.03
Como é que sabem qual é a resolução certa para imprimir? Não querendo maçar-vos com fórmulas matemáticas, a indústria diz-nos que uma imagem com 300 dpi’s é uma imagem em alta resolução. Para offset (vou ter as gráficas a quererem bater-me) o mínimo de dpi’s que EU deixo passar, é de 250dpi’s.
Sempre que for necessário converter uma imagem para CMYK, basta irem ao photoshop e ir ao menu Image/mode/CMYK.
Ok, a AF está quase feita!
Agora os Bleeds! Se não fizeres isto, 99,999% das vezes a gráfica devolve o ficheiro e diz “faltam os bleeds“. Bom, nem todas as formas industriais de cortar um trabalho são precisas ao milímetro. Quando se usam guilhotinas é quase certo que iremos ter algumas diferenças entre a primeira folha da pilha e a última folha. Por isso temos sempre de prolongar os objetos, imagens, linhas, etc. que tocam nas extremidades (lado esquerdo, direito, em cima e em baixo) da tua art board ou página pelo menos 3mm. Disse prolongar e não distorcer ou mover.
Outra coisa importante para colocar na zona do bleed são as miras de dobra porque estas não são colocadas automaticamente. As miras são literalmente linhas que indicam onde dobrar e onde cortar. No ficheiro, basta colocar um traço no local onde vai dobrar, na parte do bleed e não dentro do trabalho (pode ser um traço de 3mm afastado 2mm do corte da folha). Ahh, só mais uma coisa… as miras de corte são colocadas quando fizeres o pdf. Não façam miras de corte “manuais” no ficheiro, dá trabalho e geralmente dá bos… porcaria.
Temos a arte final feita (finalmente)!
Vamos então fazer o PDF:
- Abrir o menu File/Save as/Export pdf;
- Dar um nome para o ficheiro e gravar. Ah, e se tiverem essa opção, escolham sempre pdf e não “interactive pdf”. Os equipamentos de CTP das gráficas “falam” postscript, fogras e outras línguas estranhas mas lidam mal com coisas que não conhecem. Portanto temos de enviar apenas o que eles entendem.
- Escolher o preset PDF/X-1a:2001. Esta opção pode diferir de gráfica para gráfica por isso convém confirmar.
- Escolher as páginas que querem exportar não selecionando a opção de “spreads” a não ser que vos tenham pedido isso.
- No tab “Marks and Bleeds” selecionar “Crop Marks” e “Use Document Bleed Settings (se não definiram no document settings podem inserir aqui manualmente).
Volto a reforçar, estes são os passos básicos para fazer uma AF. Claro que faltam inúmeras coisas, por exemplo, tratamento de imagem e escolha de perfis de cor. Prometo que falarei numa próxima. Ahhhhh… muito importante, a arte final é o fim do caminho e é de uma responsabilidade terrível. Se não se sentirem à vontade, por favor, peçam ajuda! A nós, ao colega, ao chefe, à própria gráfica. Todos querem que o trabalho chegue a bom porto.
Para terminar, deixo aqui dois recursos que apesar de não estarem a ser alimentados neste momento, continuam a ser uma boa fonte de conhecimento nas áreas da pré-impressão e impressão: Prepressure e Printwiki.
E pronto, despeço-me por agora. Espero que tenha ajudado a facilitar este processo.
Até à próxima!
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Duarte Faria | Chief Innovation Officer duartefaria@finepaper.pt |
Revisão: Liliana Carvalho
Design & Paginação: Spice. Creative Seasoning